Minha grande paixão, a saudosa lembrança de uma história que vivi e que é parte tão importante de mim. Essa não foi uma viagem qualquer, foi a primeira viagem elaborada da minha vida. Antes de ir pra lá eu sequer conhecia o nordeste brasileiro ou tinha feito uma viagem mais longa que não fosse pra casa de praia dos meus pais. O gosto doce que tenho até hoje tem como primeiro fator a conquista de poder ir estudar fora do país. Hoje isso parece comum, mas na época, dentro do meu convívio social, não era. Conseguir estudar inglês num país como este foi extraordinário. Não que tenha sido simples, precisei juntar minhas economias e contar com a ajuda dos meus pais. Tranquei matrícula no 3º ano da faculdade de Comércio Exterior e fui aprender inglês. Esse era o propósito. Meti as caras, peguei o avião sozinha, sem medo ou receios e lá fui eu. Mas coincidências a parte, um grande amigo e uma turma bacana estavam indo para a Nova Zelândia no mesmo voo e aí foi festa total. Festa porque o voo parava uma noite em Buenos Aires e nós, no auge dos nossos 21 – 22 anos, não poderíamos perder nada. Passamos a noite andando pelas ruas, agitando o bar do hotel, fizemos a maior bagunça por lá e foi só curtição. Entre o dia da saída e de chegada foram 3 dias em trânsito, mas tudo era motivo de comemoração.

Ao chegar em Gold Cost, onde eu iria estudar, aí sim foi assustador. Eu mal falava inglês e tinha que me comunicar com a família que eu ficaria. Morri de vergonha, mas fazia parte.  Ao final, tudo correu bem, quer dizer, colecionei momentos maravilhosos, só que também passei por alguns apuros. As experiências que tive me mostram até hoje o quanto foi importante essa oportunidade.

Pude viajar pela costa Leste da Austrália, fazer pequenas viagens nos finais de semana, conhecer tanta coisa diferente que não daria pra explicar tudo. Consegui quebrar o pé ao pular de um palco onde fui tirar uma foto em cima de uma moto do Guns and Roses no Hard Rock Café. Tive que ficar um tempo de muleta, toda atrapalhada. O período mais difícil foi quando minha amiga brigou feio com a nossa “Homestay” (a dona da casa que morávamos) e tivemos que sair de lá. Na verdade, eu não precisaria sair, mas não havia clima pra ficar ali. Foi tenso! Tive que ficar num hotel providenciado pela escola, de muleta, limitada e essa amiga voltou para o Brasil. Mas como há males que vem para o bem, com isso acabei me mudando para a casa de um jovem casal que fez toda a diferença para que minhas memórias da Austrália se transformassem em algo inesquecível. Até hoje temos contato, eu e a Celeste, que tinha a mesma idade que eu. Passei a curtir tudo com eles e a realmente praticar meu inglês. Foram momentos únicos e quando penso em Austrália, lembro imediatamente da Celeste e do Paul que era seu namorado, duas pessoas que me permitiram viver as melhores experiências naquele lugar. Lembro de uma carta de 6 páginas que escrevi aos meus pais contando algumas coisas e agradecendo demais aquela oportunidade, afinal, se não fosse por eles, eu não teria conseguido me bancar durante todo o tempo, pagando estudos, casa, comida e algumas viagens.

No meu último período na escola, minha professora, sabendo que eu estava indo embora e que pretendia viajar para o sul do país, ofereceu a casa de uma amiga em Melbourne. Essa foi outra experiência incrível. A professora mal me conhecia, ofereceu a casa de uma amiga e sabe o que mais? Eu fui! O Paul estava por lá, me buscou no aeroporto e me levou nesta casa, me acomodaram numa sala com camas confortáveis, tudo simples, mas com muito carinho. As filhas da dona da casa eram jovens e me levavam passear nos arredores. Fiquei alguns dias por ali e não me cobraram absolutamente nada. Simplesmente me receberam de braços abertos sem sequer me conhecer. Depois segui viagem, conheci outros lugares estupendos como a The Great Ocean Road e Sidney e de lá fui ficar um pouco na Nova Zelândia, esquiar, conhecer os Geiseres e viver outras aventuras. Voltei maravilhada e hoje percebo que essa viagem foi um divisor de águas na minha vida. Difícil é lembrar de tanta coisa e não encher os olhos de lágrimas porque eu era feliz e sabia, e ainda sei….